Direito de antena – Bullying

Caros Cidadãos,

Vivemos num mundo cada vez mais interconectado e diversificado, onde o respeito e a compreensão entre todos são essenciais para a convivência harmoniosa. No entanto, um problema persistente ameaça o bem-estar e o desenvolvimento das nossas crianças: o bullying.

O bullying é um problema sério que afeta muitas crianças no nosso país, trazendo consequências significativas para a saúde, educação e bem-estar social e psicológico. É uma forma de violência que assenta num desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima e envolve atos repetidos e intencionais ao longo do tempo. A pessoa que pratica o bullying, portanto, o agressor, tem a intenção de provocar dor/desconforto na vítima, seja através de danos físicos, de palavras ou comportamentos ofensivos. O bullying pode ainda ser vivenciado de forma direta, por exemplo, agressões praticadas à vítima na sua presença, ou indireta, que geralmente acontece na ausência da vítima, tais como espalhar boatos sobre a vítima, estragar pertences, redes sociais.

Uma “recente” forma de bullying é a exclusão social, isto é, o risco de ser julgado não digno de pertencer a um grupo social; inclui sentimentos de ser incompreendido, não visto, socialmente ameaçado e privado de dignidade. Envolve isolar a vítima, rotulando-a como diferente, estranha, ou “não como nós”. O agressor cria um círculo interno de colegas submissos e ao mesmo tempo exclui propositadamente a sua vítima das atividades de grupo. A necessidade inata dos seres humanos de pertença faz com que alguns estejam dispostos a abandonar os seus valores e crenças a fim de alcançar o acesso ao círculo interno. Atualmente, esta é considerada das formas mais comuns de bullying.  As vítimas são sobretudo crianças migrantes, refugiadas, de famílias com baixos rendimentos económicos, com diferentes identidades de género e com necessidades especiais.

O bullying dirigido a estas crianças não é apenas uma forma de agressão à criança, mas também um ataque à diversidade e à inclusão, valores que devemos preservar e promover na nossa sociedade.

Este tipo de bullying é mais subtil, indireto, menos visível, e pode criar a impressão de que causa menos dano do que por exemplo uma agressão física. Contudo, este comportamento pode igualmente deixar cicatrizes profundas nas suas vítimas, comprometendo o desempenho escolar destas crianças, uma vez que o medo e o stress interferem na sua capacidade de concentração e aprendizagem. Além disso, pode afetar negativamente a socialização, levando ao isolamento e à dificuldade em estabelecer relações saudáveis. As crianças que são alvo de bullying podem desenvolver ansiedade, depressão, baixa autoestima e, em casos extremos, pensamentos suicidas. Ser um agressor pode aumentar o risco de problemas de saúde mental e de desenvolvimento de comportamentos antissociais.

A prevenção da violência sobre as crianças é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e muitos esforços precisam de ser realizados para atingir esse objetivo nos diversos contextos no qual a criança se insere e por vários intervenientes. As escolas têm sido identificadas como um contexto primordial para conduzir esforços na prevenção da violência. O espaço da escola surge como uma oportunidade para construir atitudes e normas relativamente à aceitação da violência e para educar as crianças a serem cidadãos responsáveis. Criar um ambiente seguro e inclusivo nas escolas, fomentar o diálogo e a empatia, e ensinar às crianças a importância do respeito mútuo e da inclusão são passos cruciais para combater este problema.

Para combater este problema, é fundamental que todos nós, como comunidade, adotemos uma postura proativa. Aqui estão algumas formas de prevenir o bullying e proteger as nossas crianças:

Educação e Consciencialização: É essencial educar as crianças sobre o que é o bullying, os seus efeitos e a importância de respeitar os outros. As escolas devem implementar programas de sensibilização que promovam valores de empatia, respeito e solidariedade. São exemplos de atividades adaptadas às crianças: a construção de murais, visualização de filmes ou atividades musicais com mensagens de prevenção do bullying, a dramatização de peças de teatro, a criação de grupos de trabalho e discussão. O treino da empatia e a aprendizagem de competências socio-emocionais podem reduzir a ocorrência de agressões relacionais e devem ser contemplados nos programas escolares. As diferenças devem ser “celebradas” e as crianças devem ser elogiadas quando demonstram comportamentos inclusivos e de respeito pelo outro.

Ambiente Escolar Seguro: As escolas devem criar um ambiente seguro e acolhedor, onde todas as crianças se sintam protegidas. Isto inclui a implementação de políticas “antibullying” claras e eficazes, assim como a formação de professores e funcionários para identificar e intervir em situações de bullying.

Promoção do Diálogo: Incentivar a comunicação aberta entre alunos, professores e pais é crucial. As crianças devem sentir que podem falar sobre as suas experiências sem medo de represálias. Os pais devem estar atentos aos sinais de bullying e manter um diálogo constante com os filhos.

Intervenção e Suporte: Quando o bullying é identificado, é crucial intervir de imediato. As vítimas devem ser referenciadas para receber apoio psicológico e emocional, enquanto os agressores devem ser orientados para compreender o impacto das suas ações e modificar o seu comportamento.

Envolvimento da Comunidade: O combate ao bullying não deve ser uma responsabilidade exclusiva das escolas. Toda a comunidade deve estar envolvida. Organizações locais, clubes desportivos e outros grupos podem desempenhar um papel importante na promoção de um ambiente inclusivo e respeitoso.

Porque proteger as nossas crianças é um dos desideratos da Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, é garantir um futuro mais saudável e harmonioso … é investir no futuro da nossa sociedade.

Contamos com a colaboração de todos para fazer a diferença. E, sobretudo, sejam um exemplo positivo para as nossas crianças mostrando consideração pelo OUTRO!

Isabel Costa Malheiro1 e Sónia Borges Rodrigues2

 1 Professora Coordenadora Escola Superior de Enfermagem de Lisboa

2 Professora Adjunta Escola Superior de Enfermagem de Lisboa

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